Canção Popular em Ritmo de Tamborilar
Escreveu uma critica.
Panegirica . Renovava a sua fé.
Falava de Guerras.
Comete um erro nessa critica,
um lapso que entre outros revela,
usa o termo "estamos",
estamos isto, estamos aquilo.
Como se ele "estivesse" alguma coisa,
apenas por ter visto. Espectador, entre muitos.
Triste mas comum. Gajo de cultura.
Tentar chupar a luta dos outros para ele,
sem nunca ter feito nada de similar,
ou sequer aproximar-se de entender como,
em todo o seu percurso de conformismo.
Fala de lados, e coloca-se num, claro.
Gosta de citar grandes nomes,
e colocar-se do seu lado, claro,
preda o passado para a sua arca
de "estamos", de se apropriar.
Nesta sua lógica partidária,
de não querer ser dos maus
e pertencer aos bons, acha-se bom
e com direitos de direitos a.
Mas aqui não se alimentam frustrados,
que de uma verdade fogem ao vivo,
e que por mensagens antes do sono, após,
remoem e chateiam com mesquinhez,
nenhuma importância lhes é dada,
quando com babados sorrisos pedem atenção,
entre pequenas morais, pequenos discursos
que querem depois vir cobrar,
como já antes não era atenção dada
e nenhuma ligação existia,
como agora não existe,
que o sono em silêncio e verdade se acorda.
Apenas um espectador,entre outros,
entre tantos iguais, a querer juntar-se
ao Partido, á Causa, á Batalha,
tudo com letra grande e maiúscula,
pequeno proto-fascista mole,
cuja participação é quota de clube,
e bridge no clube quer jogar,
com expressões como o nosso,
entre nós,entre nós isto fica,
na capelinha dos maiorais,
que ele, ele é um dos maiorais,
entre os outros maiorais,
que do passado preda
para no presente parecer mais alto,
psicopata de imaginárias relações
entre consigo e ele próprio.
Quer aconselhar, quer doutrinar,
ser como importante ouvido e aceite,
com rábulas de amanuense e ortografia
bebe dia a dia a sopa dos incompetentes,
dos que sempre vem depois.
Em bicos dos pés a ver se o vêem,
a dizer que também está,
a tentar comentar, a pretender educar,
a acreditar que acompanha, faz campanha.
Desconfie-se da palavra nós,
destes que querem fazer parte,
e após as revoluções e os actos
marcar presença apenas por estar
depois, sempre depois a acenar,
a cobrar a inutilidade de eles próprios não.
Meros funcionários
prenhes de opiniões, de jogos imberbes
capazes de temporária sinceridade só,
porque esta lhes queima a alma,
em fogo lento e lhes dói,
funcionários de ortografias e propriedades,
cujo único gozo é dividir,
espantam-se com a comunhão,
incapazes de dedicação,
para eles traduzida como um gosto,
um pressuposto, uma contingência,
dividem a humanidade em satélites e sóis,
porque se acham um sol,
porque gostariam muito de ser um sol,
de poder apagar todos os sóis,
de terem o poder de apagar todos os sóis,
porque é no poder que sonham,
porque nada entendem a fundo
deixemos que sonhem mas não que apropriem,
nunca que se reclamem do lado,
da causa, dos seus ideais de partidos,
tudo com uma letra grande escondida
entre as saias de inúteis verborreias,
parceiros nulos para o acto,
invejosos de longa data, tribunas de padre
mas padre que a ser padre só o seria
para se masturbar negando a absolvição,
estes guerrilheiros á posteriori,
chantagistas do apoio,
por um ano e muitos anos
alimentando ódios entre imaginárias
relações entre si e consigo,
fracos justiceiros do anonimato,
estes paladinos do mais mesquinho,
eternamente sentindo-se justos, usurários do afecto,
com estes o pão nosso dos nossos dias de entrega,
de partilha e desespero e alegria
não se pode sujar, não com estes fracos
combatentes amamentados da secretaria
a querer encher o umbigo hipócrita
com as lutas intransmissíveis dos outros,
mas sujar-se apenas com o odor e calor
do exposto coração nos actos feitos,
e muito bem feitos, o melhor sempre,
a insatisfação que nunca se anula
senão no acto, no agir e na vida,
no risco, eles cujos corações são vazios,
egos gordos cheios de razão
devem antes de morrer chiar,
estamos eu e tu, que fizemos,e mais faremos,
mais quem também faz e de facto esteve, e mais fará,
e esta canção é para ti que fazes
o todo e o tudo de ti com generosidade,
com o amor que por todos como tu me move,
estamos mais ninguém,
entre a pobreza de quem te chama de
alienado ou alienada, desequilibrado ou desequilibrada,
da critica dos indivíduos ignoremos o indivíduo,
esse putativo estamos a estar
ele que se vá com conforto "consolidar",
e para os seus acenar, de agenda na mão,
á espera de publicar, ameaçando
na hipocrisia da sua impotência,
tremendo com a luz que o descobre
hipocrisia das hipocrisias,
caixinha de realejo desafinada
esperando uma festa que lhe diga tu és bom ,
apenas dar, apenas ser, a sina dura que temos,
mordendo com o corpo e a voz
o infinito que se toca e se ouve
exorcizamos todos os dias o mundo que os permite
e com o mundo os deixamos,
para nele poderem morrer
cada dia um pouco mais antes do sono,
comendo e lambendo o tacho,
estes infelizes que gostariam muito
que os fossemos obrigados a suportar,
e que não estão em lado nenhum,
com a boca aberta de falsas literaturas,
mesmo que também para eles actuemos,
mesmo que também a eles tenhamos
de mostrar.
Hugo Calhim Cristóvão
Nuisis Zobop
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