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ERREGUETÉ: Galician Theater Review
Review by Afonso Becerra
'Where is the Lightning that Will Lick Your Flames'
Tormento, tormenta y danza
In 'Onde Está o Relâmpago que Vos Lamberá as Vos Labaredas', the heterodoxy of dance is healthy and filled with pleasure. The diverse, complex movement, rich of details, makes torment after torment brighten. The ending is a prodigy, when Sara's and Paula's breaths and positions coincide in parallel, and in that moment of enormous concentration and intensity everything experienced during the play accumulates. Then the light moves, goes to them, escapes to the column of mirrors and disappears, leaving electricity in the air. Perhaps, we even indeed experience the lightning licking our flames.
Jornal Público P3 , Paulo Pimenta, 27 Maio 2022
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ARTEZBLAI: el Periódico de las Artes Cénicas, Afonso Becerra
"Hay las miserias de quien se exhibe y de lo exhibido.
El escenario es como una lente de aumento que puede amplificar cualquier detalle. Es como una lupa que concentra los rayos del sol y puede generar combustión.
El escenario nos desnuda.
Para salir a escena hace falta valentía, mucho trabajo, honestidad.
De quien sale a escena se suele esperar mucho. Una bailarina o una actriz, cualquier persona o dispositivo escénico que actúe, se convierte en un foco de atención y en una expectativa.
Una de las cosas más difíciles en la vida y en las artes vivas es mostrar o no ocultar nuestra vulnerabilidad. Nadie quiere fracasar. Todas queremos el éxito. Y lo asociamos al poder, a la fuerza, a la infalibilidad, a la salud. Si no tenemos estas cualidades en el momento determinante, entonces nos las imponemos. Y ahí nace la impostura y el fingimiento. Eso que tradicionalmente se suele vincular con el teatro: el arte del fingimiento."
..."Portrait of a Dancer as Velvet confirma una poética muy propia de Joana von Mayer Trindade y Hugo Calhim Cristóvão, en la onda de Dos Suicidados – O Vício de Humilhar a Imortalidade (Festival GUIdance 2019) y Fecundação e Alívio neste Chão Irredutível onde com Gozo me Insurjo (Festival GUIdance 2021), que son las anteriores piezas que yo he podido ver. Una poética caracterizada por la alta intensidad física en el movimiento y la apertura de muchas evocaciones mistéricas, sin detenerse en expresiones o significados innecesarios.
Las dos piezas anteriores eran dúos. Esta última es un solo, pero en él el cifrado abstracto de la danza trasciende lo individual y parece contener lo universal. El retrato de la bailarina no es el retrato de esta bailarina, de Sara Gil Agostinho, va más allá."
Impregnation and Solace Over this Irreductible Soil Where With Fruition I Insurrect Myself
Suicided - The Vice of Humiliating Immortality
"O estado supremo da vertigem": Helena Teixeira da Silva, Jornal de Notícia, 01-04-2019
DDD Poucos saberão quem foi Raul leal (1886- 1964), filósofo e poeta modernista que pouco brilhou no clã do Orpheu, talvez com injustiça, mas a quem pertence um pensamento arrojado e futurista e a autoria de conceitos como o de astralédia- qualquer coisa coisa como a fusão absoluta de todas as artes. Provocador, esotérico, socialmente excessivo e politicamente incorreto, o escritor acabaria por exilar-se em Sevilha, em 1915, de onde escreveria a Mário de Sá Carneiro revelando-se: "O espírito cada vez brilha mais através uma crescente decomposição da matéria e da vida". Uma dança íntima entre a miséria física e a riqueza criativa, que haveria de sobressaltar a Fernando Pessoa, seu amigo, defensor e tradutor de uma carta quase inédita que sintetiza o seu futurismo:" o estado supremo da Vertigem". Os coreógrafos Joana von Mayer Trindade e Hugo Calhim Cristovão, que têm dedicado os seus últimos trabalhos ao cruzamento entre a coreografia e a filosofia, dão-nos hoje (Campo Alegre, 19h) a conhecer este extraordinário "profeta do Espirito Santo", em "Dos Suicidados - O Vício de Humilhar a Imortalidade"
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"Da melancolia luxuriante de Lento e Largo à luxúria vertiginosa de Dos Suicidados": Alexandra Balona, Jornal Público, 24-02-2019.
“...uma travessia inflamada de dois corpos entre a vertigem do vício e da dor, no paradoxo que une a morte à sofreguidão de vida -, partilham um enorme rigor coreográfico atravessado por uma intrigante atmosfera de melancolia, na primeira mais subtil, na segunda levando-nos para regiões austeras da existência humana. (...) uma dramaturgia muito complexa e simbólica, física e emocionalmente intensa, numa ode à vida e à morte que não deixa o público indiferente.”
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Cuestión de confianza. IX GUIdance. Por Afonso Becerra, 25-02-2019
"Dos Suicidados – O Vício de Humilhar a Imortalidade es una pieza enjuta, sobria y, a la vez, rebosante. Francisco y André, los bailarines, semidesnudos, ejecutan una coreografía de una alta fisicalidad, que parece no tener principio ni fin. (…) El tacto y la ceguera. La distancia y la mirada. El tacto del contacto y de la relación, con los ojos cerrados, pronunciando la piel y su vibración íntima. (…) También, en el esfuerzo olímpico de toda la sucesión de actitudes y figuras, asoma aquella concepción ritual y casi sacrificial de Jerzy Grotowski, heredada, en parte, de Antonin Artaud, aquellas imágenes de Ryszard Cieslak como un Jesús Cristo del teatro en el Príncipe Constante, por ejemplo."
GUIdance 2019 por Afonso Becerra, 17 Fevereiro 2019
"Joana Von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão estrearam DOS SUICIDADOS - O VÍCIO DE HUMILHAR A IMORTALIDADE, uma peça de dança quase grotowskiana na qual respiração e movimento são a música em luta com o silêncio e a morte, até a exastãu. Do esforço visível no movimento, como coreografia, em DOS SUICIDADOS..., ao esforço invisível na marcação coreográfica em TO A SIMPLE ROCK 'N' ROLL... "
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Danem-se! E que venham os artistas novamente decadentes!: Claudia Galhós, Jornal Guidance, 2019.
"Eles começam por aí, pelas leituras. “Sodoma Divinizada” de Raul Leal, “Funâmbulo” e “A Criança Criminosa” de Jean Genet e “Van Gogh, o Suicidado da Sociedade” de Artaud surgiram no início. Estes são textos que trazem uma implicação do viver que desafia normas e convenções, e procura um sentido sempre na inconformidade. As primeiras ideias correm soltas, como diz Hugo. “Gostei muito do texto ‘Sodoma Divinizada’, da temática. Por outro lado, a Joana queria trabalhar sobre algo que tivesse a ver com vício, e surge a ‘Justine, ou os infortúnios da virtude’ do Marquês de Sade. Portanto, temos ‘Sodoma Divinizada’, Marquês de Sade, a relação entre dois homens, depois uma relação sexual escondida, o vício...” E assim se vai desenrolando o novelo de uma ideia que chegará a cena. Muitas questões são recorrências, como o fascínio por Artaud."
Insatiability in the Case, or at the same time a miracle
“Melhores de 2017 – Dança / Intermitências do mundo”: Claudia Galhós, Expresso, 23-12-2017.
"Foi um ano particularmente marcante na criação artística no que podemos entender como dança no sentido amplo. Corpos que afirmam a sua resistência, rebeldia, cansaço, idade, fogo, doença, desalento e fundamental eloquência do outro. Corpos poéticos. Corpos politicos. Corpos viscerais. Corpos inconformados. Corpos obscenos."
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“Porto, new place to be”: Gérard Mayen, 13-05-2017.
“Derrière un emballage corporel expressionniste, le mouvement est troublant, qui s'abstient de tout déploiement en trajectoire spectaculaire, mais en même temps se consume d'énergie farouche, en profondeur, comme pour creuser sur place. C'est intransigeant. Intrigant. Et peu à peu enivrant."
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"Porto, point de bascule”: Ainhoa J-Calmettes, Mouvement, nº90, 07/08-2017.
Hasard ou logique intime, ce retour coïncide pour eux avec un nouveau chantier de recherche autour de “l’esprit portugais”, “La pensée, ou lâme”, portugaise est censée être intimement liée à la saudade (mélancolie –Nda). Nous étions très sceptiques vis à vis de cette idée, voirs très en colère. Le fascime et la dictature se sont complètement réapproprié ces termes de façon a immobiliser la tradition. ” Dans leurs dernière création, quatre performeurs font preuve d’une intense physicalité, concentrant leur énergie en infimes mouvements ou sautant jusqu’à l’épuisement, le visage grimé en masque expressionniste. Inspirés par un texte d’Almada Negreiros – Le Carré bleu - , Joana von Mayer Trindade et Hugo Calhim Cristovão cherchent “um maximalisme qui serait construit dans le temps” et tracent ainsi un grand écart temporel entre science-fiction et univers primitif. En mêlant passé et futur, ils referment un piège logique sur la possibilité d’une quelconque nostalgie.”
"Arte de Estranhar em Festival": Claudia Galhós, Expresso, 2017.
"É neste enquadramento, na categoria do estranhamento, que se integra o primeiro encontro em redor da peça, ainda em criação, “Dos Suicidados - O Vício de Humilhar a Imortalidade” de Joana von Mayer Trindade e Hugo Calhim Cristovão”.
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"Da importância do que se esquece e do que se recorda": Claudia Galhós, Jornal Guidance, 2018.
"O trabalho que tentamos fazer, implica uma ideia de relação que é estar com as pessoas e connosco próprios depois da paixão, quando começa a vir a desilusão, quando a pessoa com quem estás, por quem te apaixonaste ou com quem estás a trabalhar já não é o teu 'príncipe encantado'."
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"Dança. GuiDance busca múltiplos futuros e apresenta Rui Horta em dose dupla": Tiago Mendes Dias, Público, 16-12-2017.
"De 01 a 10 de fevereiro, Guimarães recebe a 8ª edição do GUIDance - Festival Internacional de Dança Contemporânea, convocando nomes incontornáveis como Wayne McGregor e Peeping Tom a abrir e a encerrar, respetivamente, o festival. Rui Horta – coreógrafo em destaque nesta edição – apresenta duas criações, uma em estreia absoluta e outra em reposição. Em 2018, o GUIdance reúne a europa da dança na cidade berço, com Vera Mantero, Joana Von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão, Patricia Apergi, Euripides Laskaridis, Marlene Monteiro Freitas e Andreas Merk a completarem o cartaz."
Heaven is just a blue disguise of hell
"Liberdade e repressão no Festival Cumplicidades": Vanessa Queiroga, Visão, 04-03-2016
“Na dramaturgia do espetáculo são investigados os sentidos de desejos reprimidos, o caótico, o dilaceramento que leva ao prazer e a relação conflituosa entre dois mundos, muitas vezes presente em obras da literatura portuguesa, como em Luís de Camões, Bocage ou Fernando Pessoa. Imaginamos numa senzala, durante a noite, os escravos a dançar. Pensamos na dança da corte e na dança dos escravos. Essas duas formas diferentes de entender a dança. O que faz com que pessoas que estão a trabalhar o dia todo, que nem loucas, se juntem à noite para dançar. A que necessidade isso corresponde?", explica Hugo Calhim Cristóvão, sublinhando que no espetáculo não se trabalhou a libertação com um sentido místico, mas sim como uma pesquisa sobre o prazer e o movimento de transgressão.”
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"Anjos, demónios, manifestos e mentiras no Cumplicidades", Gonçalo Frota, Jornal Público, 04-03-2016.
“Mas em cena céu e inferno empurram os bailarinos no sentido do sofrimento, da agressividade, da violência e do esforço físico. Até ao ponto em que tudo isto, de súbito, desemboca no prazer. O ponto em que os opostos, embalados por uma ritualística bateria indutora de transe, se diluem um no outro.”
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It's enough!!!: Cláudia Galhós, 06-04-2016.
"These are artists in in between generations, with a very strong view on arts and/or the world, doing very potent, urgent and pertinent work, pulsing with life and relevance, creating waves of disturbance in the body and in the mind of colleagues and audiences. Some of them have been programmed by Cumplicidades.
Here are some examples. The intensifying power of strangeness, which is violence of the flesh and transformative pulsing of possible visions of the body in “Heaven is just a blue disguise of Hell”, by Hugo Calhim Cristóvão & Joana von Mayer Trindade."
"Festival Cumplicidades regressa a Lisboa em março": Rita Cipriano, Observador, 11-02-2016.
"O festival, que irá decorrer entre os dias 4 e 19 de março, irá arrancar com “O Céu é apenas um disfarce azul do Inferno”, um espetáculo co-produzido pelo Cumplicidades em conjunto com os coreógrafos e dançarinos Joana Von Mayer Trindade e Hugo Calhim Cristóvão. Com um título retirado de um poema de Teixeira de Pascoaes, “O Céu é apenas um disfarce azul do Inferno” centra-se nas diferentes visões, representações e heresias que o Céu e o Inferno assumem na cultura portuguesa."
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“Arte na intimidade”: Cláudia Galhós, Expresso, 2016.
“Aqui há autores e mundos para descobrir. “O Céu é apenas um disfarce azul do inferno”, de Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão é um desses casos de singularidades artísticas por desvendar. Esta peça que abre o festival, trata de “visões, representações, heresias, que Céu e Inferno, Demoníaco e Angélico, assumem na cultura portuguesa, e fá-lo sobre o signo da: carnal, conceptual, poética”.
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"The paradise is a tribe - Heaven is just a blue disguise of hell" by Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão at E-Motional Bacău Dance Connection 2015, Article by Beatrice Lăpădat in Art Act Magazine /Romenia
"The paradise is a tribe - Heaven is just a blue disguise of hell" by Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão at E-Motional Bacău Dance Connection 2015, Article by Beatrice Lăpădat in Art Act Magazine /Romenia
"Starting from the first minutes, the corporal presence of Joana von Mayer Trindade evoked me the text of Grotowski about The performer. Her imposing physique, derived less from physicality and more from the solemn-liturgical posture, the sacred searches and the primitive compulsion with which the Portuguese dancer and choreographer operates, are correspondent to all the definitions given by the great Polish theoretician: `The Performer, with capital letter, is a man of action. He is the dancer, the priest, the warrior; he is situated outside the aesthetical genres. The ritual means performance, an accomplished action, an act (…) something forgotten` .
Heaven is just a blue disguise of hell has all the data needed to transform itself in a mature, well-established organism. No matter what are the further modifications that the dancers Joana von Mayer Trindade and Bruno Senune will bring, together with the director Hugo Calhim Cristovao, the performance already has, with no doubt, the total and forestalling energy of a rejuvenating artistic act."
Sobre Nameless Natures, de Joana von Mayer Trindade" por Alexandra Balona.
"O “e/ou” de Nameless Natures comporta, à partida, uma série de premissas da peça. Trata-se de um solo “e/ou” um dueto, de um corpo “e/ou” outro corpo que, ora se fundem, ora se expandem no espaço exíguo de um canto e das duas paredes que o formam - suporte e/ou barreira para os seus movimentos.
A conjunção “e/ou” reúne numa só palavra cópula e disjunção, ou seja, reunião e fusão com exclusão e alternativa. Assim, Nameless Natures, de Joana von Mayer Trindade, interpretação e co-criação de Bruno Senune e/ou Lee Meir desdobra-se num díptico (ou pluríptico) de possibilidades. Convoca o hibridismo no género, na indiferenciação humano-animal, e na estranheza dos movimentos. (Re)abre a questão da imagem e da não imagem que interpela o espectador - o negro dos figurinos, a invisibilidade dos corpos sem rosto e de costas voltadas. Do mesmo modo, a peça relembra-nos a contradição que existe na visibilidade do invisível, ou seja, aquilo que nos planos opacos, nos cantos, ou até na morte, será possível ver por inter-medio da memória, da imaginação, e da criação. Estas naturezas são tão inefáveis quanto “sem nome”, e recordam os limites da linguagem e da acção humana.
No café-concerto do Rivoli Teatro Municipal do Porto, a plateia disposta defronte a um canto vê nele dois corpos em pé, vestidos de preto, capuz na cabeça, ambos de costas, um sobre o outro. Sem um desenho particular de luz, tudo nos surge muito cru e evidente.
No centro e suspenso do tecto, um elemento desequilibra e inquieta o espaço cénico: uma crina de cabelos, fios e despojos de outra natureza sem nome que convoca o sagrado, o desconhecido, o simbólico – e porque não a arte? – aquilo que, ao longo dos tempos, permitiu ao humano (con)viver na fissura da sua finitude, sair de si e encontrar o outro, responder à eminência da morte.
Nunca vemos os rostos daqueles corpos voltados para o canto. Com movimentos de pressão e metamorfose fundem-se um no outro, compactam-se. Progressivamente afastam-se, desligando ao longo das paredes, sempre com movimentos estranhos, sem narrativa, nem representação. Corpos e orgânica de movimento numa procura de relação com os planos físicos, naquela que parece ser também uma procura interna de modo de agir. Um deles retoma o canto em explorações várias, o outro atravessa o espaço de uma parede à outra, com mais rapidez, e ataca o solo. Movimentos de arrasto no chão, ora velozes, ora calmos, parecem responder à composição sonora que irrompe inesperadamente na sala. A sonoplastia de Jonathan Saldanha confirma a dissonância do ensemble, uma interrupção no silêncio que pretende ser desligada de tudo, disruptiva. A segunda interrupção, mais à frente, um bater de coração ao longe sem relação aparente, confirma uma composição que se pretende inquietante, de naturezas não cognoscíveis.
Outro elemento faz entrada na cena, uma peruca de cabelo longo e escuro que é disputada (ou amada) no solo pelos dois performers, e que vem reiterar o estranhamento destes seres e desta comum+unidade entre ambos. Assim como entra, esse elemento desaparece. Há movimentos mais agressivos e velozes que lembram, por instantes, disputas ou relações carnais, mas os corpos permanecem ilegíveis. Um dos performers desaparece, o outro retoma o canto, e ali fica.
Se no biocapitalismo actual, a transformação permanente dos modos de vida e de subjectivação é mercantilizada, como refere Boyan Manchev, será necessário persistir na metamorfose, e assim, actuar no vazio inapropriável entre as singularidades – o vazio originário do político - sem o saturar, sem o reduzir a uma substância.
Ao contrário de outras peças de dança contemporânea que convocam, nomeadamente, naturezas animais em corpos humanos através da representação tácita e estereotipada dos movimentos, Nameless Natures têm a virtude da não literalidade das imagens, de persistir na estranheza, na metamorfose e experimentação do sensível, não libertando o espectador da sua inquietação, e mantendo em aberto a potência do político."
Zos (She Will Not Live)
Carlos Gouveia Melo
“Na verdade testemunhou-se uma transubstanciação, tanto mais difícil quanto se trata, não só de um corpo no seu estado de esplendor físico, como ainda feminino, e logo, desde há milénios prisioneiro de um olhar, o masculino. Mas a transubstanciação dá-se. E, naturalmente em ritual, em absoluto silêncio, entrecortado apenas pelo som do seu próprio fabrico.”
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Yves Rouleau
« Encore merci et bravo pour ta performance c'était du grand art, digne d'un Jan FABRE, de La RIBOT et bien d'autres... »
Jocelyn Cottencin
« Je suis très heureux de découvrir la force, l’intensité, l’engagement qui caractérisent ton travail . De la pièce se dégage évidemment une posture particulière, une nécessité de revendication, de faire face, d’un engagement physique et par là elle construit un vocabulaire personnel. J’ai été très impressionné par ta présence, de ce qui se dégage de toi sur scène. Il se produit une grande richesse de lecture, en même temps que des actions impressionnantes. »
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Ana Clara Guerra Marques
“Lindíssima na sua pele alva que vai metamorfoseando com molas de madeira, baton vermelho, álcool e uma bata roxa. Ao contrário do título escolhido, eu atrever-me-ia a dizer: She will live, ou she lives e com ela somos transportados ao universo das máscaras. Quantas temos cada um de nós? Todas e mais essa que tirámos para perceber o excelente trabalho de Hugo Calhim Cristovão e Joana von Mayer Trindade.”
Abbadon
Sobre "ABBADON", crítica por Nuno Meireles Actor e Professor de Teatro
“Estamos em guerra. A verdade é que estamos em guerra.
Estamos em guerra com o simples facto de serem não os vencedores mas sim os burgueses que escrevem a história do nosso tempo. Ou antes, que se inscrevem na história, como se fosse por pacotes ou acções ou comparticipações. Estamos em guerra com a burguesia. Estamos em guerra com a falta de mérito, estamos em guerra com a falácia, com o embuste, com a ignorância encapotada de cultura. Estamos em guerra com o grande choque entre o que se diz e o que se faz; estamos em guerra com quem tem dinheiro, e estamos em guerra com quem se lamuria de não o ter; estamos em guerra com todo o baby boom de criadores auto-fecundados em geração espontânea, para quem a arte começou agora e com eles; estamos em guerra com o meu estilo, os este vai ser um projecto transversal, os pluris isto e pluris aquilo; estamos em guerra com carradas de gente que até mete impressão.
Estamos em guerra e isto não é brincadeira. Estamos em guerra e, como estamos em guerra, a única coisa que podemos fazer é servir-nos ou de uma grande raiva ou de um grande amor. Ou de um ou de outro. Às vezes dos dois. Muito raramente dos dois.
Estamos em guerra e Abbadon é uma peça que está num dos lados das trincheiras. Está no lado em que ninguém quer estar. Não está nas folhas de serviço ou de pagamento de lado nenhum, não está senão na trincheira onde mora a tenacidade. Está com a guerrilha. Isto se Abbadon não for, afinal, a própria guerrilha. Algures, escondidos dos olhares das gentes, sem desistir nunca.
Conta-se que os guerrilheiros vietnamitas, nos ataques a alvos americanos, para passar por arame farpado não usavam camisa pois isso os prenderia, atrasaria. Preferiam ferir a carne. Abbadon está neste plano. Prefere ferir a própria carne para chegar aonde quer.
Esta peça, por ser tudo o que não se vê hoje em dia, é tudo o que faz a diferença, é uma ponta de lança no terreno pantanoso de ignorância - e às vezes ignomínia - em que estamos. Não há esperança nenhuma que isto melhore, pelo contrário. Mas pode haver fé. E Abbadon é um renovar da fé no teatro. Um sólido, forte, rigoroso manifesto de fé, de raiva, de humor, de técnica, de sobrevivência.
Abbadon é uma peça feita por uma actriz só. Mas Abbadon não é apenas uma peça feita por uma actriz só, é outra coisa. Porque tem construção em cada momento; porque tem, ao contrário de desleixo, rigor físico; ao contrário de auto complacência, determinação; ao contrário de vamos experimentar uma ideia que tou a ter, exercício pleno das possibilidades do corpo, da voz, da emoção e da imaginação de uma actriz.
Não é uma peça fácil mas há alguma outra peça que seja tão exigente para com o público por o ser consigo mesma?
Enfim, uma peça a sério. Uma peça em que a iconoclastia e a escatologia ombreiam com a auto exigência; em que o esforço não compactua com o masoquismo; em que há justeza de proporções em todos os momentos, tão cruamente apresentados, próximos, chocantes, mas nunca gratuitos. Porque Abbadon vende-se muito caro.
Enfim uma peça em que o humor e o sarcasmo estão lado a lado de uma construção, de uma verdadeira resposta ao mundo. Finalmente uma franqueza de emoções, ao lado de um enorme mosaico de recordações, invocações e situações fragmentadas de que o texto fala. Enfim uma peça que não fala senão numa torrente de palavras, que é o tema e ao mesmo tempo parte do discurso contínuo que vai acontecendo. Discurso de corpo, discurso de voz, discurso do texto, discurso da emoção, tudo às vezes junto e às vezes separado, paralelo, como numa polifonia, como numa auto-estrada com as suas várias vias, tudo a andar muito depressa, muito forte, muito urgente, muito a saber precisamente para onde vai. Por baixo por cima e por todos os lados de qualquer arame farpado, dentro e fora da actriz.”
“Vale a pena ir ver” por Ana Clara Guerra Marques – Coreógrafa e Bailarina
“Fui, há dois dias, ver as peças dirigidas pelo Hugo. Ainda hoje há algo que me escapa para poder fazer uma apreciação completa (isto existe?).
Descrever aqui o que vi no pequeno compartimento completamente fechado e povoado de desenhos-símbolos, onde a Paula nos prende durante quase uma hora, seria revelar algo que só é permitido sentir-se em presença da actriz/performer e na clausura do espaço escolhido.
Para além da excelente direcção e interpretação, há um texto que desafia, incomoda, agride e fala do amor, das memórias das coisas e das pessoas.
(…)
Todas e mais essa que tiramos para perceber o excelente trabalho do Hugo, da Joana e da Paula.”
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